domingo, 19 de dezembro de 2010

A força do Pinheiro da Natal

Decorria um indeterminado ano. Provavelmente um dos primeiros em que já serviam pequenos-almoços.
O normal era pedir um ovo estrelado com bacon. Mais tarde por causa do colesterol, trocaram a entremeada por uma carne melhor e assim nasceu o dilema do ovo com lombo.
O que terá aparecido primeiro? O ovo ou a galinha?
Talvez a galinha. Mas alimentando-se esta de sementes e sendo o pinhão uma semente, terá a galinha comido pinhões?
E já agora, o que terá aparecido antes, o pinhão ou o pinheiro? Se for o pinhão e depois veio o pinheiro, significa que a galinha não comeu o pinhão. Se foi o pinheiro, poderá ter sido decepado no Natal e já não deu pinhões.
Sem pinhões no Natal, restam as nozes, os figos secos, as frutas cristalizadas e o bolo rei.
O bolo rei leva ovos, pelo que mesmo não sabendo quem foi primeiro (o ovo ou galinha), sabemos que no Natal foi o ovo. E tendo sido este envolvido com alguma promiscuidade com farinha e açúcar, não teve oportunidade de evoluir para galinha.
Não havendo galinha, o pinhão safa-se e teremos pinheiro depois do Natal. Depois do Natal, os pinheiros são deitados fora, pelo que também já não interessa.
Quanto muito interessarão no Verão, para serem devorados na 'incêndios season'. Nessa mesma altura vêm muitos emigrantes matar saudades, principalmente os que não puderam vir no Natal.
Também nessa altura com o calor, as pinhas abrem-se e deixam cair os pinhões.
Pena é que os emigrantes façam muitos churrascos, não havendo depois galinhas para comer esses pinhões, razão pela qual, no próximo Natal haverá pinheiros.
Só que pela mesma razão não haverá ovos, o que por consequência não haverá bolo rei nem rabanadas. O que assim sendo, no próximo Natal não se justifica cá virem os emigrantes.
Seja como for, eu gosto muito da noite de Natal. Isto porque acontece sempre após uma dúzia de meses e logo no dia 24, ou seja, duas dúzias. É talvez por isso que é muito fácil contabilizar ovos, são às dúzias, ao contrário dos emigrantes que são muitos.
Até que um dia, um emigrante da América chegou na noite de Natal e disse:
- Esqueçam a galinha, lá nós comemos peru.
A galinha sobreviveu, comeu os pinhões e deixou de haver pinheiros.
Zangados, os vizinhos igualmente emigrantes, foram acertar contas com o emigrante gringo. Pois sem pinheiros já mais poderiam vir no Natal e no Verão.
Foi então que o mesmo emigrante sugeriu o pinheiro de plástico, o dinheiro de plástico e aproveitando o excesso de galinhas, a comida de plástico com o McChiken.
Começou então a formar-se um enorme volume de interessados para provar tal iguaria.
Perguntou então alguém lá de dentro para começar a servir:
- Vamos lá então, quem é que apareceu primeiro?
O ovo e a galinha ficaram a olhar um para o outro. O pinheiro coçou a pinha e o pinhão foi à boleia com um emigrante em camisa de alças numa moto 4.

Chegou-se então à frente a Caixa 3 do Pingo Doce e fez o seu pedido:
- Era um ovo estrelado com bacon.